"Fim... e recomeço"
Não seria melhor dar à morte o lugar na realidade e em nossos pensamentos que lhe pertence apropriadamente?
Sigmund Freud, 1915.
Sempre brincamos dizendo que a única certeza que temos é a de que um dia vamos morrer. Mas a morte, como tudo, mora ao lado. Vai acontecer com o vizinho, mas sua família viverá eternamente.
Negamos sua existência até que um choque de realidade nos coloque diante dela – seja ela a morte anunciada ou inesperada. Revolta, desalento e temor são sentimentos que estão ali, à flor da pele.
Para pensarmos no dinamismo da própria vida, usufruindo, contudo, da condição de uma existência onde pontifiquem uma identidade e uma individualidade próprias, escolhemos o tema “Fim… e recomeço” para discutirmos neste primeiro semestre de 2010.
O fato de estarmos vivos nos coloca frente a frente com um grande desafio: buscar o que nos é mais “apaixonante”, aquilo que nos dará movimento – mesmo que em outros momentos isso vá nos paralisar diante do que é belo ou terrível – e será sempre a fonte da nossa criatividade e vitalidade, embora às vezes nos acarretem o cessar da própria vida.
A angústia perante a finitude da vida e perante a incapacidade de determinar nossa própria existência e ainda a fragilidade do momento testam nossa capacidade de lidar com as perdas. Podemos falar sobre a morte ou mesmo vê-la como acontece nos velórios, por exemplo, desde que o seu significado afetivo mantenha-se afastado da consciência.
Trata-se de um tempo da delicadeza. Delicadeza que há no encontro quando tudo parece sinalizar para a perda e o desencontro. A morte nos fala de um vínculo que se rompe de forma irreversível, da “completa derrocada” em que caímos frente à morte de uma pessoa amada. Ao se perder o objeto amado a dor pode se colocar como insustentável e intolerável. Como disse Freud, “nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos”. É esse sofrimento que na hora da morte de um ente querido nos leva ao limite da loucura.
Mas e quanto ao nosso fim? Não há no nosso inconsciente registro de nossa própria morte. Por isso, é impossível simbolizá-la.
É a aceitação da morte e a consciência da brevidade da vida que movem as pessoas a valorizar mais o que têm em mãos e a viver plenamente. Assim, aceitar o caminho para a morte é viver.
Para refletir sobre essa questão, selecionamos dois filmes: “Depois do casamento” e “A partida”. Neles, nossos protagonistas, cada um ao seu modo, sofrem, tentam, acreditam e descobrem, sobretudo, que o fim é inevitável e que a esperança, como dizia Aristóteles, é o sonho dos acordados.